A LA PRIMA

A obra que transcende a grande arte é sempre aquela que não compomos, mas que emerge das entrelinhas da exaustão. Não se pode dar á luz o monstro sagrado, pois luz não é seu alimento, e é por isso que recorremos a técnicas extraordinárias e as vestimos do fantástico. Como explicaria o autor se indagásse-mos sobre a morte de Abel, e quem seguiu os passos de Caim quando ele juntou-se aos elementais da terra para gerar herdeiros?
Nos artifícios de mundo vazio cabem quase tudo, menos a verdade,talvez porque a verdade seja justo o mundo vazio, onde suas personagens vestem-se ora de Melquisedeque, ora de Judas, trocando novamente o figurino no terceiro dia.
Subjetividades seguem figuradas, pois representam a solidão trágica e precisamente circular,os critérios psicológicos que jamais perdem sua profundidade, ainda que não alcancem a maldição insuperável do saber.
Circunstancial e passageira, a pseudo-lucidez não parece condição imprescindível para passar-mos por aqui, pois o pântano perde seu caráter dimensional com um simples canto de coruja. Procuramos ficar próximos uns dos outros,embora os outros permaneçam os outros. O mundo que te faz sofrer talvez seja só um amontoado de ti mesmo, um multifacetado diamante refletindo teu narciso interior.
É noite de bruma chumbo,te encontro, co-autor do meu texto, acendo a tocha que te cega e te dou a mão do demônio que não domestiquei.
A verdade, compreendida em toda sua profundidade,penso que seja a biografia de um Deus mendigo,que encontrou em suas noites frias o dom de contar estórias longas, o tempo inteiro.
Ateu, ou a teu, critério exponho minha visão agudíssima e contraditória, depoimento pessoal de uma mera ilustração, dilacerada, colada no verso do velho muro, grafithi urbanoide recém copiado de paris.
Tu já prestastes atenção aos ruídos dos insetos até não mais restar menor dúvida de seu engajamento social? O temperamento dos insetos repousa na certeza. Não tem e nem sequer mudam de partido e são comunitários por essência. Se eu fosse morcego,possivelmente seria vegetariano,ou só beberia o sangue sujo de políticos humanos.
Vez que outra, alguém vem á tona, Lao Tsé, Leonardo,show de Truman,matrix,...e logo, algum mistério bifurca seu discurso... vez que outra,alguém atrai a atenção para a inexistência da inércia. A humanidade adormeceu nos braços de Proteu. Alguém aqui falou Morfeus?...Não. Enquanto Bach tenta desesperadamente não compor mais as encomendas do rei insone.
Acorda. Talvez tu percebas que a corda bamba esticada não está sobre abismo algum.

SELISTRE

CHIP

O homem assíduo espalha seu suor sobre aquelas amarguras que a velha fábrica mastiga e remói, enquanto pertence ao útero das idéias. Tem sempre a certeza de o dia acordar-lhe cada vez mais cedo.
Se escrevesse aquele conto, se juntasse dinheiro para vender bebidas, todos bebem, afinal, até ele já bebe um pouquinho....e, se ...desse palestras sobre como ser um vencedor nos negócios ? Poderia decorar inteiros livros sobre o tema!
Pensar faz perder tempo. E lá se vai, chegar atrasado pela primeira vez.
Minguadas confissões no domingo, e dores de cabeça cada vez mais violentas. O homem calado no metrô lhe parece rir. Mendigos albinos estão fingindo dormir e já não mais temem por sua sanidade.
Só se pode escrever como se pensa. Então aquele conto já se perdeu. Publicar o pensamento seria por demais revelador.
O homem transfigurando-se cruza a galeria da estação, afasta-se do romantico projeto de independência que ainda lhe ensurdece. Registros prevalecem sobre seus esforços bizarros de criatura.
Se tivesse uma conversa séria com sua solidão,quem sabe toda a hesitação do mundo se rompesse e,...se a parede fosse menos densa entre as encarnações...?
Os trilhos do trem lhe sorriem, convidativos,feito os braços macios de Dalila, mas uma coisa é vê-los assim,sob a a noite ébria e outra é negar Alexandre Volta. Evidente que não daria manchete.

selistre


PERSPECTIVA

Cronologia, eis a tentativa visceral de dominar-mos a sequência narrativa das oportunidades. Contradições mais ou menos genéricas embora recortadas em cânones acadêmicos por contistas costumazes ou autores modernistas nos sugerem esboços de estórias onde sempre cabe aquele figurino que idealizastes. Guardado no camarim da cartomante,com todo cuidado,está aquela roupa usada por teu ego quando fôstes o grande César,nunca a sandália do plebeu sujo ou daquela criança agredida numa rua de Jerusalém no mesmo dia e hora.
O real é ligeiramente mais complexo que o interior de cada um, previsíveis que somos.
Sequenciação é algo feito a ilusão de inércia, sucintamente sem indicação de credibilidade e, no entanto, expõe traços de registros paralelos expressos em cada entrelinha. Sabemos que a qualidade do conto está escrita com suco de limão. Reservada á quem acender a vela na densa e habitada noite do tempo.
Naquele horizonte longínquo, no inascessível pote do final da busca, idealizei um espelho, côncavo e retrovisor.

SELISTRE


O PRINCIPE

Havia sobre a pele o arrepio, e a textura das horas adormecidas incendiava projetores muitos na mente dúbia. Deixar a noite perder-se em sombras, submergir em trevas e, do mêdo, aproximar-se cúmplice.
Persegui, anônimo, as contrações tempestuosas,os pavores súbitos a regar lírios rubros na madrugada pálida do santo campo.
Entrechocar de vagões sob hesitações e correrias. Tal a indigestão do sangue morfinado de minha solitária celebração.
Acordara para dentro do sonho, sem perceber. Decidira não prolongar as horas e, por isso talvez, optara por alistar-me á ideologia de Barrabás tão logo a manhã pousasse seus cabelos dourados sobre o orvalho dos ciprestes.
Do sonho,noite passada,pensara,cenas se repetiam em momentos raros e curtos de nitidez. Moedas, centuriões, e o eco de um pacto, hemoetílico, sombrio. Detestaria pensar, por mais que nescessário. Mas preciso ir logo, pois no sonho alguém falara que Barrabás será libertado ainda hoje.
Para meu Mestre já amanheceu, porém o ar parece afogar as árvores. Tantos são os seus amigos, que não sentirá minha falta. Mas devo deixar-lhe a bolsa, pois parece pesar mais nessa manhã.
--Skariotes !...Ias partir sem dar-me um beijo, amigo?

SELISTRE

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