terça-feira, 23 de março de 2010

Noite


Um relâmpago de couro amarelo cruzou o céu violeta da senzala. Abriu caminho e misturou-se ao carmin da veia aberta.
Poderia ter sido um poético hai kai. Se não fosse um gesto vil. Da imagem e semelhança de outro ser cruel.
Misturei essas cruas cores sobre a tela e aprendi a pintar a pele do Brasil.
Selistre

sexta-feira, 19 de março de 2010

Insonia


Ruídos de cadeiras e aquarelas.Sempre arrebatadas de desespero. Quebram estrondosamente o silencio num relâmpago intencional para, após,estremecerem de orgulho.É necessário estar com pressa, para se sentir uma aquarela. Na escuridão o rumor das ondas é imenso. Examinar um fenômeno para,quando estiver só,não decifrá-lo. Semelhanças de gênero,mortificação de cortesias e um allegro ma non troppo sorriso posto junto ao chá.
Tratei de esquecer os áridos raciocínios para vir á tona e pintar sem o esfôrço mental que me assombrara. No entanto, as pessoas amontoadas na esquina da Caldas Junior para "ver" radio trazem um clima de noite agitada.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Reencarnação




Ser estrangeiro é sumamente singular. Não há tristeza nem esperança na terra que não é minha. Estava sóbrio como num encontro imaginário.Não se estabelece logicamente vinculações nem sobra uma possibilidade real de vertígem.Efetivamente, a possibilidade de encontrar-me com a Firenze de Leonardo me levava a rascunhar diálogos e vislumbrar silhuetas solitárias de outros dias , outros tempos. Fica a impressão de que alguem me precedeu em horas. Quando pisei as ruas de pedras vulcânicas e respirei o ar desse outro mundo meus olhos estavam quietos e escuros. Uma estranha intuição acendia a tocha na densidão, mas a naturalidade que me rodeava era recente. Vibrava no ambiente um trabalho inacabado e um significado profundo tomou de assalto a ampulheta. Melancolia. Me senti tão fiorentino quanto portoalegrense e um cortejo de certezas me acompanhou durante os cinquenta dias que experimentei essa fusão essencial. Uma comunhão para dizer adeus, tão tênue e cruelmente precisa na essencial comunicabilidade fugaz e bela da deusa arte. Grazie, bela Firenze !!!

Selistre